A expressão “corpo astral” vem da idade média, e foi originalmente empregada pelo astrólogos da época, numa tentativa de explicar de que maneira a influência dos astros agia sobre a substância física. Segundo eles, o corpo físico mantinha dentro de si uma duplicata de matéria astral, isto é; de matéria sutil do mesmo tipo das influências irradiadas pela esfera celeste (da qual a Terra, naturalmente, era considerada o centro), e era através do impacto destas influências transmitido pelo corpo astral ao corpo mais grosseiro que os astros influenciavam a vida humana. A astrologia caiu em descrédito durante o Século dezenove, que foi o século de grande avanço do pensamento materialista; mas o desenvolvimento da física e da química tem levado os cientistas modernos a aceitarem a possibilidade de radiações muito sutis serem transmitidas continuamente através do espaço sideral.
As experiências com fotografia áurica, iniciadas pelos russos, indicam que todo corpo vivo está rodeado de uma aura de energia, de uma gama vibratória visível ao olho físico; e modernos biólogos começam a admitir a influência do movimento aparente do sol, e do movimento real da lua, sobre a vida na superfície do nosso planeta, inclusive a vida humana. Os iniciados, entretanto, nunca tiveram dúvidas quanto à existência do “corpo astral”; apenas, eles vão mais além: o assim chamado corpo astral compõe-se de diversas estruturas, cada qual de uma determinada gama vibratória, e cada qual com uma determinada função. Os hindus, e principalmente os budistas, tem feito uma análise muito aprofundada dos veículos de que se compõe o “corpo astral” dos místicos medievais do ocidente. Certas pessoas tem um “corpo astral” mais desenvolvido que o normal, seja devido ao treino deliberado, seja devido a herança genética, seja às influências magnéticas do local onde vivem ou das pessoas com as quais entram em contato. Por exemplo: iniciados treinados, principalmente se são de um alto grau, mas não de um grau suficientemente elevado para terem aniquilado o Ego, possuem personalidades intensamente magnéticas, perturbadoras para pessoas sensíveis que não estão acostumadas à presença de força psíquicas em estado de tensão. Em circunstâncias nas quais aspirantes já de certo desenvolvimento ampliam a consciência dos veículos internos mais facilmente, aqueles que não estão preparados podem ser extremamente perturbados pela vizinhança constante de um iniciado. Portanto, ocultistas avançados que, sem terem ainda alcançado total equilíbrio e aniquilação de seus poderes, permitem a profanos a entrada em seu círculos, e estão sendo imprudentes e até indiscretos; mas não podem, com justiça, serem acusados de abusarem de suas faculdades. Eles emanam força involuntariamente, devido à sua alta carga interna. Os iniciados de maior adiantamento sempre vivem afastados da multidão, pois eles não apenas precisam de isolamento para seu trabalho, como sua influência produz uma reação psíquica violenta em profanos. Faz algum tempo, aquela colega nossa a quem já nos referimos, tendo alcançado o trabalho correspondente ao Grau de Philosophus da AA, estabeleceu uma Abadia de Thelema num local que não especificaremos, onde seus discípulos imediatos podiam ir para retiros e treinos mágicko. Um de seus Neófitos, muito bem intencionado, tendo conhecido um homem que se dizia interessado em psiquismo, solicitou permissão para trazê-lo em sua companhia para uma visita. Como já dissemos antes, nossa colega é extremamente confiante, e consentiu na visita de um profano. As condições eram especiais, pois segundo o Neófito, seu conhecido estava a beira de um colapso nervoso, e talvez a atmosfera da Abadia o auxiliasse a se recuperar. O profano era uma pessoa extremamente sensível, escrupulosamente limpa, e com uma acentuada repugnância por sujidade de qualquer tipo. Suas simpatias especiais em psiquismo eram teosofia e as obras de Max Heindel. Ele seguia uma dieta estritamente vegetariana e era extremamente meticuloso em seus hábitos. Sua obsessão pela limpeza pessoal e a de seu meio ambiente, seu vegetarianismo, que ele declarava decorrer de uma profunda repugnância pela violência e pelo sangue, e seu incessante interesse por misticismo haviam impressionado o Neófito como sintomas de espiritualidade. Infelizmente, quando nossa colega consentiu na visita, ela ainda não sabia destas características do visitante, que teria reconhecido imediatamente como sintomas de um temperamento sadomasoquista extremamente reprimido. Quando o visitante, a quem chamaremos de Sr. N., chegou à Abadia, ocorreu um curioso incidente. A Abadia possuía um jardineiro, o qual por sua vez possuía um cachorro, viralata extremamente amigável e pachorrento, cuja ocupação favorita além de coças as pulgas era dormitar em frente ao portão. N., tendo saltado do taxi que o trouxera da estação, e pago o preço da viagem, agachou-se ao lado do animal para acariciá-lo. O cachorro levantou-se de um pulo e saiu ganindo com o rabo entre as pernas para os fundos do quintal, de onde não saiu até a hora do almoço, para grande espanto de seu dono, que nunca vira o animal proceder assim. O Jardineiro declarou mais tarde que desde o primeiro dia desconfiara de N., por causa da reação do seu cão ao contato com o visitante. Fora este incidente inicial, N. causou excelente impressão ao pessoal da Abadia, inclusive a nossa colega, a qual não estivera presente a sua chegada, e só soube do caso com o cachorro alguns dias depois. Era um homem quieto, bem comportado, de palavras comedidas, inteligente e culto. Suas opiniões sobre ocultismo, em muitos pontos, diferiam radicalmente daquelas do pessoal da Abadia, mas não houve qualquer atrito durante o dia. O visitante declarou-se encantado com a Abadia e seus habitantes, e expressou desapontamento apenas pelo fato de que lhe haviam reservado um quarto separado: ele supusera que iria dormir no mesmo quarto que o Neófito responsável pela sua vinda. Nossa colega explicou-lhe delicadamente que o Neófito tinha que dormir sozinho, pois estava executando certas práticas que faziam parte de seu programa de treino, e N. pareceu ficar conformado com a explicação. Naquela noite, o Neófito acordou de um profundo pesadelo, sentindo, como escreveu em seu diário, “um peso que lhe oprimia o peito”. Mesmo depois de acordar e levantar-se, parecia-lhe como se atmosfera do quarto estivesse impregnada de uma influência doentia. Ele executou os rituais de banição próprios do seu grau e voltou a adormecer sem mais incidentes. Na manhã seguinte, entretanto, durante o café ele mencionou seu pesadelo, e para seu espanto os outros membros da comunidade declararam em peso que eles, também, haviam experimentado pesadelos durante a noite, com exceção de nossa colega. É claro que, nas circunstâncias, começaram a comparar o que havia acontecido com cada um. Os pesadelos tinham sido do mesmo tipo, inclusive a sensação de opressão no peito. No auge da discussão, N. que se havia retorcido irrequieto em sua cadeira desde o primeiro instante em que se mencionara pesadelos, protestou muito nervoso: – Por favor, não falem dessas coisas tão mórbidas que eu fico com mal-estar! Em deferência ao visitante, o assunto foi encerrado; mas nossa colega, para quem a paz da comunidade era muito importante, uma vez que estava sob sua responsabilidade, sentiu que a Abadia estava sob alguma forma de ataque; não era normal que todos seus estudantes tivessem tido o mesmo pesadelo, e isto na mesma noite. A única influência nova na casa era a de N., portanto, ela resolveu ficar de olho nele. Conforme ela comentou mais tarde, não lhe ocorrera ainda que os acontecimentos pudessem ser causados por ele; era simplesmente que a entrada de um profano representava uma quebra no círculo. Naquela noite, uma das Probacionistas da Abadia, sentindo um premonição, percorreu a casa inteira na hora de dormir, experimentando portas e janelas para ver se estavam bem trancadas. Ela encontrou-se com N. (que vinha do banheiro) num corredor, e este perguntou-lhe o que estava fazendo. – Estou com a impressão de que há uma influência hostil nos rondando – explicou a moça. –Um ladrão, ou alguma coisa assim. N. deu uma risada. – Sua bobinha! Não adianta trancar as vias de entrada, o perigo está dentro da casa. Vá para seu quarto e feche a sua porta à chave. A Probacionista, entretanto, continuou seu trabalho de verificar se estava tudo bem fechado, e ao retirar-se para seu quarto não trancou a porta; isto era coisa que nunca fora necessário na Abadia, onde a privacidade de cada um era respeitada com o máximo de rigor. Apesar disso ela passou uma noite normal, não experimentando qualquer pesadelo. O mesmo, entretanto, não ocorreu com o Neófito responsável pela vinda de N .. Por volta das duas da madrugada ele experimentou o mais terrível pesadelo que já tivera na sua vida, e acordou suando frio, como se alguém o estivesse forçando a se manter deitado, ou jazesse sobre ele. Ao sentar-se no leito ele viu distintamente a cabeça de N. flutuando no ar aos pés da cama, diminuindo rapidamente de tamanho, e arreganhando os dentes ferozmente como numa ânsia de mordê-lo. “ Foi a coisa mais maligna que já vi até hoje”, ele escreveu mais tarde em seu diário. Em vez de tentar pegar de novo no sono, ou de executar os rituais de banição, o Neófito sentiu-se tão abalado que saiu do quarto e foi bater a porta de sua superiora, nossa colega, que também estava experimentando uma noite inquieta, embora não tão desagradável, e acordou facilmente de seu sono. Ela ouviu com atenção o relato do Neófito e depois fez-lhe diversas perguntas pertinentes. Como resultado, o Neófito revelou que N. tinha recentemente lhe feito uma proposta homossexual, que fora polidamente recusada. Entre Thelemitas, naturalmente, homossexualidade não é vergonha nem crime, apenas um ato de escolha pessoal. Nossa colega não ficou chocada pela revelação de que N. tinha tais apetites, mas a situação estava agora esclarecida. – Vá dormir! Disse ela ao seu discípulo – e deixe isso comigo. O Neófito voltou ao seu quarto, sentindo-se bastante aliviado. Nossa irmã esperou que ele fechasse a porta e traçou astralmente um pentagrama no centro do umbral, apontando para fora. Então retirou-se aos seus aposentos, onde executou uma prolongada adivinhação pelo Taro. O Neófito passou o resto da noite tranqüilo, com um profundo sono reparador. Na manhã seguinte, o aspecto de N. à mesa de café era chocante: estava profundamente pálido, suas mãos e lábios tremiam continuamente. Nossa colega, observando-o, perguntou aos circunstantes como haviam passado a noite. Desta vez, constataram que as mulheres, embora com sono inquieto, não haviam tido nenhum pesadelo; mas dois rapazes declararam que haviam novamente experimentado uma sensação de peso e desconforto sobre o peito. – Apenas sobre o peito – disse nossa colega, não sem malícia – ou também sobre alguma outra parte do corpo? Neste momento N. levantou-se tão bruscamente que sua cadeira foi arremessada ao chão. – Parem com isso! – ele gritou, puxando os cabelos. –Parem de me torturar! Enquanto os circunstantes, com exceção de nossa colega, o contemplavam boquiabertos, ele ejaculou uma série de acusações frenéticas e disparatadas contra a companhia. Eles o estavam perseguindo e insinuando coisas sobre ele. Voltou-se para o Neófito responsável pela sua presença na Abadia e acusou-o de crueldade, frieza e zombaria. Finalmente debulhando-se em lágrimas, saiu correndo da sala e foi trancar-se em seu quarto. A situação seria cômica se não fosse patética. Os circunstantes se entreolharam consternados. Uma das moças começou a rir, e parou tão subitamente quanto começara. Os olhos se voltaram para a cabeça da comunidade. – N. está passando por uma Ordália iniciática – disse nossa colega. –Não se preocupem, deixem isso comigo. Enquanto a congregação terminava o café da manhã com menos conversa e mais gravidade que de costume, nossa irmã foi a cozinha, encheu um vasilhame de água onde dissolveu um pouco de sabão, fez certos sinais e pronunciou certas palavras, e foi até o quarto ocupado por N., onde traçou no centro limiar da porta um pentagrama apontando para dentro. Normalmente, com a passagem do sol acima ou abaixo do horizonte, a força magnética desses sinais se dissolve e é necessário refazê-los. Mas a sensibilidade de N. era tal que ele não saiu do quarto até a manhã do dia seguinte, quando nossa irmã foi pessoalmente buscá-lo. É desnecessário dizer que a comunidade dormiu tranqüilamente aquela noite, sem quaisquer incidentes. Durante o dia seguinte nossa irmã teve uma longa conversa com N.. Este fora educado numa cidadezinha de Minas Gerais como rigoroso católico, sua família sendo fanaticamente religiosa. Na adolescência, havia sido mandado para um seminário, onde, como infelizmente é comum, fora condicionado a homossexualidade por um de seus receptores. Embora a família tivesse desejado que N. seguisse o sacerdócio católico romano, tal não aconteceu porque quando o rapaz tinha dezoito anos foi descoberto em flagrante com seu preceptor em atividade sexual. O preceptor, como acontece, acusou N. de tê-lo tentado e insistido na relação, e o infeliz seminarista foi forçado a sair do estabelecimento em desgraça. Nossa colega, baseada em suas conversações com N. e na longa adivinhação pelo Taro, chegou as seguintes conclusões: N. era um temperamento sensível e impressionável, que talvez não tivesse tido tendências ao homossexualismo de berço, mas fora condicionado a este tipo de atividade por um padre devasso. O choque de ser expulso do colégio o antagonizara com a Igreja Romana, pelo que ele se ligara ao tipo de misticismo emocional e elementar que mais se assemelha ao Romanismo, isto é a teosofia de Max Heindel, sem ser exatamente cristão. A atividade homossexual exacerba tendências ao sado-masoquismo e provoca um desenvolvimento anormal do corpo Etérico. Na atmosfera altamente carregada da Abadia, o corpo astral de N. se exteriorizara inconscientemente durante o sono, e procurara satisfazer seus apetites frustrados pela recusa do Neófito em ter relações com ele. Na primeira noite todos haviam sido atacados, com exceção de nossa colega, cuja aura era demasiadamente forte para ser afetada; mas na Segunda noite, tendo feito sua escolha magnética, o astral de N. atacara apenas homens mais jovens, começando pelo Neófito que o atraíra. Quando a situação foi explicada a N. por nossa colega, ele sentiu-se extremamente consternado por sua conduta. Nossa colega tranqüilizou-o, apontando que ninguém é responsável por seus atos a não ser depois que se torna cônscio deles. N. ficou a Abadia durante mais uma semana, benquisto por todos; mas toda noite nossa colega tomou a precaução de selar o umbral da porta do visitante com o pentagrama traçado com água e sabão, apontando para dentro, a fim de impedir que o astral de N. se exteriorizasse durante o sono e saísse para “assombrar” o resto dos habitantes. O exemplo que acabamos de dar, trata-se de um ataque astral inconsciente. É preciso que as pessoas compreendam que cada um dos nossos “veículos” ou planos de consciência, se assim preferimos, tem seu próprio “quartel general” de controle, análogo ao celebro físico. Ponderemos, por exemplo, a maneira como nossas funções fisiológicas são normalmente executadas sem qualquer necessidade de intervenção da mente consciente. O sistema nervoso reflexo se encarrega da manutenção da saúde física, deixando as faculdades volitivas conscientes livres para executarem outro tipo de trabalho. Pensemos, por exemplo, o que seria a nossa vida se tivéssemos de respirar conscientemente para viver! Este, aliás, é um fenômeno que às vezes ocorre na prática de Pranayama. Há pessoas que tem um corpo astral extremamente desenvolvido, como resultado de herança genética, ou treino involuntário, ou treino deliberado. Se tais pessoas não mantém o corpo astral sob controle, ele tenderá a divagar além do corpo físico, o que é bastante perigoso. Assim como no caso de N. seu corpo astral, estimulado pelas práticas homossexuais, depois dinamizado pela atmosfera magnética carregada da Abadia, exteriorizou-se para procurar satisfazer os apetites reprimidos de seu dono, pode acontecer que o corpo astral, divagando a esmo no astral, seja atacado, e até mesmo capturado, por uma influência hostil. Isto acontece freqüentemente com os praticantes do espiritismo, principalmente os Kardecistas, que não tomam a mínima precaução mágicka para testar ou selecionar as influências às quais permitem acesso a seus veículos e a seus locais de trabalho e moradia. A aura de certos médiuns espíritas, em conseqüência, é um poço de imundície astral. O que é pior, sua influência malsã é infecciosa. Sentimentalismo piegas, negativismo emocional, receptividade mórbida são apenas alguns dos seus efeitos. Doenças nervosas, da pele, lesões do sistema muscular e da espinha dorsal, falta de concentração mental, tendência ao exagero, ou à mentira, e até ao roubo, são outros efeitos da mediunidade imprudente. As exceções são pouquíssimas. Homens e mulheres de um alto grau de verdadeira pureza pessoal e firmeza de caráter tem auras que inibem as entidades mais baixas, principalmente se eles selecionam cuidadosamente seus associados, como ocorre no candomblé legítimo. Mas infelizmente, tais casos são a exceção e não a regra. Se a aura de um sensitivo faz parte de um corpo astral desenvolvido por herança genética, e a pessoa não exercita nem domina seu veículo sutil, este tenderá a divagar no astral e a freqüentar as correntes magnéticas com que adquiriu afinidade em existências anteriores. Em certos casos, o corpo astral pode estar mais desenvolvido que as faculdades volitivas do corpo físico na existência presente, e fenômenos semelhantes ao de dupla personalidade podem ocorrer. Do ponto de vista iniciático, isto é altamente indesejável, mas alguns médiuns e “psíquicos” se orgulham de uma tal situação. Em certa ocasião, um indivíduo que desejava adquirir dominação psicológica sobre nós, declarou-nos que conversava freqüentemente com o nosso Ente Mágicko, o qual “lhe dava conselhos”. – Talvez isso possa ocorrer, nós lhe replicamos, mas se meu Ente Mágicko, lhe disser para fazer coisas que contradigam o que eu lhe digo quando estou em meu corpo físico, você não estará falando com meu “Ente Mágicko” coisa nenhuma, e sim com algum elemental ou demônio tentando me personificar. O cavalheiro em questão, vendo o tiro lhe saiu pela culatra, afastou-se de nós. Descobrimos mais tarde que se tratava de um hábil vigarista, especializado em explorar a megalomania de pseudo-místicos; usava um nome falso e já extorquira enormes quantias em dinheiro de diversas “sociedades ocultas” brasileiras. A técnica desta particular vigarice baseia-se em que a maioria dos ocultistas não tem a mínima concepção do que é realmente o caminho Iniciático. Tais infelizes mais que depressa aceitam a idéia de que seus “Entes Mágickos” são capazes de aparecer a “seus discípulos” à sua revelia e sem seu conhecimento consciente. Aí, o “discípulo” começa a dizer ao “mestre” o que este supostamente lhe disse enquanto estava se manifestando magicamente. Antes que o “mestre” perceba, estará atacando as coisas que o “discípulo” lhe diz que ele disse nas “visões”. Desse momento em diante, o verdadeiro “mestre” é o “discípulo”. O que deve ser claramente compreendido é que as faculdades humanas que representam a Individualidade, à Volição, e a Compreensão espirituais estão completamente acima de qualquer manifestação astral. Elas estão além do Abismo, e o corpo astral não existe além do Abismo. Como diz O Livro da Lei, cap. I, 8-9: O Khabs está no Khu, não o Khu no Khabs. Adorai então o Khabs, e vede minha luz derramar-se sobre vós! O Khabs é a “Estrela”, isto é, a centelha do Fogo Divino em cada ser humano, seja homem ou mulher. O Khu é o termo que os antigos egípcios usavam para descrever o Ente Mágicko do Iniciado. Este Ente Mágicko, que corresponde ao “Corpo de Glória” do místico cristão, consiste na purificação e harmonização de todos os veículos inferiores. É este Ente Mágicko que é dissolvido voluntariamente pelo Adepto Exempto ao cruzar o Abismo. Identificando-se com o Khabs, o Iniciado ativa o Ajna Chakra, que corresponde a Hadit no sistema hindu. Como resultado, a Energia Cósmica se concentra no Sahasrara, que corresponde a Nuit, e a Luz das Estrelas se derrama sobre o Iniciado. Até a etimologia dos termos hindus para os “éteres” mais sutis, Adhi e Anupadaka, se assemelha aos termos egípcios correspondentes, Had e Nu. Isto sugere que ambas as correntes iniciáticas tiveram a mesma origem num passado mais longínquo, talvez na legendária Atlântida ou na legendária Mu Isto é um assunto que só pode ser de interesse aos historiadores. O que nos concerne, na prática, é a absoluta necessidade de controlar o corpo astral, e mentê-lo sempre sob domínio daquelas faculdades em nós que representam a nossa Verdadeira Vontade. Iniciados de corpo astral muito desenvolvido, mas de baixa ética, podem ser muito perigosos, não só para os profanos como para outros Iniciados. Os leitores não devem julgar que um corpo astral bem desenvolvido é sinal automático de alta espiritualidade; isto seria o equivalente de supor que um halterofilista de enormes músculos é necessariamente uma pessoa de elevados sentimentos e nobres intenções. Citaremos um caso bastante ilustrativo, da experiência de uma iniciada da antiga Aurora Dourada, atualmente reformulada como a Ordem Externa da AA. No primeiro ano deste século, Aleister Crowley, que subira rápidamente nos Graus da Aurora Dourada, instituiu um exame mágicko da Ordem e seus “chefes” e, tento chegado a conclusão de que a organização perdera seus laços com os planos espirituais destruiu-a ocultamente. Uma das poucas pessoas de valor que ainda estavam ligadas à Aurora Dourada na ocasião era Violet M. Firth, mais conhecida de ocultistas pelo seu pseudônimo de Dion Fortune. A Sra. Firth escreveu uma série de artigos para uma conceituada revista de ocultismo inglesa, descrevendo as manobras espúrias de falsos iniciados, mas sem se referir diretamente à Aurora Dourada, a qual era seu único contato com Magick e misticismo naquela época. Infelizmente para a Sra. Firth, seu grau era muito abaixo do de Crowley, e ela começou a experimentar estranhas sensações de ameaça e de pressão oculta. A seguir, começou a ter experiências de clarividência involuntária. Isto era alarmante, pois iniciados treinados não tem experiências psíquicas involuntárias a não ser em circunstâncias muito fora do normal. Um médium kardecista pode se alegrar de ver subitamente a fisionomia de um “falecido” lhe aparecer à frente; um ocultista treinado interpretará o fenômeno como uma quebra naquela separação que sempre deve ser mantida entre os diversos planos de consciência. Como disse a própria Srs. Firth, ao relatar sua experiência: “No método pelo qual eu fui treinada somos ensinados a manter os diversos planos de consciência estritamente separados, e usamos uma técnica específica para abrir e fechar os portais. Em conseqüência, a gente raramente experimenta um psiquismo espontâneo: nossas visões se assemelham às de um cientista usando um microscópio para examinar materiais previamente escolhidos.” As experiências anormais da Srs. Firth se avolumaram ao ponto em que, no seu estado normal de vigília, ela começou a ver faces demoníacas aparecerem e desaparecerem de relance, a qualquer momento, e quando ocupada com qualquer assunto. Neste ponto, ela já começara a suspeitar que estava sob ataque, e corretamente atribuiu o ataque à série de artigos que havia publicado denunciando abusos em fraternidades pseudo-ocultistas; mas ela não identificara ainda o atacante, e mais tarde escreveu: “Qual a minha surpresa, então, ao receber uma carta de uma pessoa que eu considera minha amiga, e pela qual eu sentia o máximo respeito, uma carta que não me deixou em qualquer dúvida quanto à fonte do ataque que eu estava sofrendo, e quanto àquilo que eu poderia esperar se continuasse a escrever meus artigos!” A pessoa em questão, cujo nome a Sra. Firth não revelou em seu relato, era a esposa do pretenso “chefe” da Aurora Dourada, denunciado por Crowley, o qual usava, indevidamente, o nome de “MacGregor Mathers” (mencionado em “Liber LXI”, A Lição de História, sob o Mote S.R.M.D.) Moina Mathers, irmã do filósofo francês Henri Bergson, tomara as dores do marido no conflito deste com Crowley. Tanto ela quanto Mathers pouco podiam fazer contra Crowley, um iniciado de grau muitíssimo mais elevado que o deles; mas o caso de Dion Fortune era outro. Como ela mesmo escreveu: “Posso dizer com toda mínima suspeita de que esta pessoa estava envolvida nos escândalos que eu estava denunciando. Evidentemente eu tinha me metido em assuntos bem mais graves do que pensara.” Muitas críticas podem ser feitas a Dion Fortune, mas coragem de brigar (exceto com Crowley, a quem ela nunca compreendeu, mas cujas obras copiou descaradamente, e a quem ela instintivamente respeitava) nunca lhe faltou. Meditando sobre a situação, ela chegou a conclusão de que a publicação dos seus artigos era necessária, e lhe fora inspirada pelos Vigilantes Invisíveis. A série de artigos já estava completa, mas havia sido apenas parcialmente publicada; ela poderia ter impedido que a publicação continuasse. Ela decidiu permitir que a série se completasse. Continuando a citar o seu relato: “O Equinócio de Primavera tinha chegado. Devo explicar que esta é a mais importante época do ano para ocultistas. Grandes marés de forças estão fluindo nos Planos Internos, e são muito difíceis de manipular. Se vai haver perigo astral, usualmente a situação eclode nesta época. Há também certas reuniões que ocorrem no Plano Astral, e muitos ocultistas a elas comparecem fora do corpo físico. A fim de fazer isto, temos de nos colocar numa espécie de transe, e então a mente fica livre para viajar. É costumeiro pedir a alguém que entende destes assuntos para ficar de guarda ao lado de nosso corpo físico enquanto este está vazio, a fim de impedir que ele sofra algum dano. Continuando ela diz: Em via de regra, quando estamos sofrendo um ataque oculto a gente se conserva a qualquer custo no estado normal de consciência, e dorme durante o dia e permanece desperta e meditando quando o sol está abaixo do horizonte. Mas, como o azar ocasionalmente impõe, eu estava obrigada a sair numa viagem astral nessa ocasião. Minha atacante sabia disso tão bem quanto eu. Portanto, executei meus preparativos com todas as precauções de que pude lançar mão: reuni um grupo de discípulos cuidadosamente selecionado para formar o círculo de guarda, e selei o local da operação com cerimonial costumeiro. Eu não tinha muita fé nesta ultima precaução nas circunstâncias, pois minha atacante era de um grau mais alto que o meu, e poderia passar por quaisquer selos que eu sabia impor. Mas ao menos, os selos me protegiam contra forças mais baixas. “O método de executar estas viagens astrais é altamente técnico, e não posso aqui me estender sobre o assunto. Na linguagem da psicologia, trata-se de auto-hipnose através de um símbolo. De acordo com o símbolo escolhido, nós obtemos acesso a diferentes seções do Invisível. O iniciado treinado, portanto, não vagueia pelo astral como um fantasma perturbado, mas vem e vai através de corredores definidos. “A tarefa de minha inimiga, portanto, não era difícil, pois ela sabia a que horas eu teria de fazer esta viagem, e o símbolo que eu teria que usar para deixar meu corpo. Por isto eu sabia que teria que enfrentar oposição, embora não soubesse de que forma esta oposição apareceria. “Essas viagens astrais são na realidade sonhos lúcidos em que nós retemos todas as nossas faculdades de escolha, poder de vontade, e discernimento. As minhas sempre começam com uma cortina de cor simbólica, através de cujas dobras eu passo. Assim que eu passei pela cortina nessa ocasião, vi a minha inimiga esperando por mim, ou se outra terminologia for preferida, comecei a sonhar com ela. Ela me apareceu nas vestimentas completas do seu grau, que são magníficas. Barrando minha entrada, foi logo dizendo que por virtude de sua autoridade ela me proibia de utilizar esse corredores mágickos. Repliquei que não admitia o direito dela me barrar apenas porque estava pessoalmente zangada comigo, e que eu apelava para os Chefes Internos, aos quais tanto ela quanto eu estávamos obrigadas. Então começou uma batalha de vontades na qual experimentei a sensação de ser arremessada pelo ar e de cair de uma grande altura, e me percebi de volta a meu corpo. Mas meu corpo não estava onde eu o havia deixado, e sim num amontoado no canto mais afastado da sala, onde tudo estava derrubado e espalhado como se lá estivesse explodido uma bomba. Através do fenômeno de repercussão, a luta astral aparentemente se comunicara ao meu corpo físico, o qual dera cambalhotas em volta do aposento enquanto o agitado grupo de guardiões retirava a mobília de sua passagem! A experiência me deixara um pouco intimidada, pois não havia sido agradável. Admiti para mim mesma que fora derrotada, e que havia sido expulsa com sucesso dos caminhos astrais; mas compreendi também que se eu aceitasse esta derrota minha carreira oculta estaria terminada. Assim como uma criança que acaba de cair de um cavalo de ser recolocada imediatamente na sela, ou jamais terá coragem de cavalgar de novo, senti que eu tinha que encetar novamente minha viagem astral a qualquer custo. Assim, disse aos meus discípulos que se acalmassem e reformulassem o círculo, porque nós tínhamos que tentar de novo; invoquei os Chefes Secretos, e exteriorizei-me novamente. Desta feita houve um combate rápido e duro, e atravessei a barreira. Tive a Visão dos Chefes Interno, e regressei. A luta estava terminada. Nunca mais experimentei qualquer problema. Mas quando tirei minhas roupas a fim de ir dormir naquela noite, minhas costas estavam muito doloridas, e com uma lente examinei a pele num espelho. Do pescoço à cintura eu estava coberta de arranhões, como se estivesse estado nas garras de um gato gigantesco. Contei esta história a alguns amigos, ocultistas experientes, que no passado haviam estado associados à pessoa com a qual eu tive este problema, e eles me disseram que ela era bem conhecida por este tipo de ataque astral. Um amigo deles, após uma alteração com ela, tivera um experiência exatamente similar; ele ficara coberto de marcas de unhas afiadas. Nesse caso a pessoa ficara doente durante seis meses e tinha se afastado completamente do Ocultismo.” Dio Fortune, ou Violet M. Firth, prossegui seu relatório desta experiência mencionando a morte misteriosa de uma moça, encontrada nua nos rochedos de uma praia irlandesa em circunstância que indicavam que estivera fazendo uma invocação mágicka. Seu corpo estava coberto de marcas semelhantes, e ela também estivera associada a Moina Mathers. Mas aí já saímos do terreno do ocultismo para entrar no das fofocas. Tanto a Srs. Mathers quanto a Srs. Firth já morreram faz tempo, e tais marcas continuam a ocorrer. O autor destas linhas já as descobriu sobre seu corpo após ataques mágickos. Elas decorreram da dilatação excessiva, com conseqüente hemorragia, dos vasos capilares periféricos. A hemorragia deixa marcas semelhantes a arranhões. Não precisamos, portanto, atribuir ataques astrais à alma de Moina Mathers, ou à infeliz família dos felinos. As marcas são realmente, o resultado de repercussão de pressão etérica sobre o corpo físico; mas decorrem normalmente de qualquer tipo de luta psíquica, a qual produz o fenômeno de “stress” no organismo carnal.