segunda-feira, 2 de julho de 2018

PERGUNTA: O que é "arriar" uma oferenda? É só colocar no chão de terra batida ou na encruzilhada da via urbana?

RAMATÍS: - Os antigos sacerdotes negros dos clãs tribais, iniciados e hábeis manipuladores das energias ocultas do planeta, entendiam que todo o trabalho que tinham para entrar nas florestas, escolher e separar as folhas, macerá-las para retirar o sumo, localizar flores às margens de cachoeiras e riachos, frutas e raízes nas matas seria inválido se não fosse bem "arriado" na natureza. Na cosmogonia das religiões africanistas, especialmente a iorubá, o ato de "arriar" uma oferenda estabelece e perpetua uma troca de força sagrada entre dois mundos: o divino oculto e o profano visível; tudo é energia e tem mais afinidade com este ou aquele orixá.
Essa energia deve estar sempre em movimento em ambos os sentidos: entre o plano concreto material e o invisível-astral. Assim como a água em seu ciclo sucessivo de chuva, evaporação, resfriamento e degelo, a dinâmica de transferência energética é considerada essencial e parte da vida.
Está claro que nenhuma oferenda supera a fé e a confiança no Divino que jaz dentro de cada criatura. O ato de amor à natureza, e que ocasiona o sentimento de caridade, auxílio ao próximo e preservação da vida animal, difere em muito da busca do "divino" em favorecimento próprio, disposição solitária e egoísta fundamentada na matança dos irmãos menores do orbe que servem de repasto não a espíritos de luz, mas a entidades que precisam da vitalidade fluidificada pelo sangue e "arriada" nas encruzilhadas de ruas urbanas para continuarem plasmando suas cidadelas de prazer no além-túmulo.
Contudo, atentai que muitos dos cidadãos que se enojam diante dos despachos nas esquinas, quando vão, ainda durante a manhã, sonolentos em deslocamento para o trabalho, sentindo-se superiores aos "crioulos" atrasados, em seus encontros semanais nos centros assépticos louvando hosanas ao senhor, esquecem-se de que perante a equanimidade do Incriado (o Deus único) o bife acebolado sobre a mesa também foi um inocente porquinho, vaca ou javali, morto pelo ser humano para encher a barriga de outros de sua espécie. O ente que come não é menos responsável perante as leis universais que aquele que mata.
Embalados em caixas coloridas que hipnotizam a mente diante das prateleiras dos mercados perfumados, com funcionários sorridentes, o mesmo acontece com o empanado de frango, o hambúrguer e a salsicha do cachorro-quente, todos mastigados para saciar a fome animalesca dissimulada dos homens civilizados.

 (Origem: “A Missão Da Umbanda” Ramatís/Norberto Peixoto – Editora do Conhecimento)