Babaçuê[1] é um culto religioso afro-ameríndio popular do Norte e Nordeste do Brasil em especial nos estados do Amazonas e do Pará.[2]
Também chamado de Batuque-de-Santa-Bárbara, Batuque-de-Mina, é considerado como uma das Religiões afro-brasileiras por ser um tipo de candomblé mestiço, também chamado de Jeje-Nagô, onde são cultuados tanto Orixás como Voduns.
Como Batuque de Santa Bárbara, cultua os Orixás nagôs Iansã e Xangô, a primeira protegendo as mulheres e o segundo, os homens. E na versão Batuque-de-Mina, cultua os Voduns.
Descrição[editar | editar código-fonte]
O babaçuê é uma religião presente no estado especialmente no Pará, mas também no Amazonas e no Maranhão. De tradição jeje-nagô, possui fortes elementos indígenas. Está intimamente ligada ao tambor-de-mina e ao terecô do Maranhão. "Babaçuê" possivelmente é uma corruptela de "Bárbara Soeira", nome pelo qual o terecô maranhense também é conhecido.
No início do século XX, pesquisadores de visibilidade nacional davam notícias vagas sobre um tipo de culto na Amazônia denominado "batuque" ou "babaçuê", que teria se curvado às tradições ameríndias, ou seja, à pajelança (CAMPELO, Marilu; DE LUCA, Taíssa; apud Carneiro, 1964).[3]
As danças rituais constituem a parte mais externa e pública do culto. Através das danças, toques e cânticos, as entidades são homenageados, invocadas e se apossam dos iniciados e assim participam dos ritos. Os cânticos do babaçuê recebem o nome genérico de doutrina.
Como o tambor-de-mina e o terecô, o babaçuê se baseia na tradição jeje (fon) de culto aos voduns. Porém, também é realizado o culto aos orixás (tradição nagô), em especial Iansã (orixá dos ventos e protetora das mulheres, sincretizada com Santa Bárbara) e Xangô (orixá dos raios e da justiça, protetor dos homens). Além de voduns e orixás, cultuam-se os "caboclos" ou "encantados", ou seja, os espíritos dos ancestrais indígenas. Narra Carneiro (2014):
Segundo o relato de Alvarenga (1950), Sátiro afirmava que em Belém existiam três linhas de culto africanas: a cambinda, trazidas pelos primeiros que chegaram à cidade; a nagô, que veio depois; e a jeje que chamava o batuque pelo nome de "tambô di mina" (p. 22). A autora segue durante toda a sua obra descrevendo atividades realizadas por Sátiro em sua casa, e chama atenção em seu texto para o fato de que na pajelança de Sátiro, o pajé negro, não haver uso ou referência à pena e ao maracá. Ela procura destacar que, mesmo invocando espíritos como o de Japetequara (um velho índio que mora nos matos da Ilha do Marajó), Sátiro cultua os voduns jeje, "entidades trazidas pelos escravos africanos do antigo reino do Daomé".
Esse registro das atividades de Sátiro nos permite perceber que as práticas de pajelança no Pará apresentavam um outro elemento marcante, além da hegemonia da figura do índio pajé e do caboclo pajé, há o negro pajé que introduz na configuração da pajelança amazônica elementos africanos. Alvarenga (1950) parece querer estabelecer que a pajelança amazônica seria o resultado da amalgamação de religiões de origem africana e de cultos praticados pelos índios da região. A pajelança, chamada de babassuê por Sátiro, seria o exemplo concreto de uma religião primitivamente brasileira: o babassuê. Nessa prática se teria a base de todas as crenças brasileiras, construída com a predominância de elementos negros e índios"[4].