segunda-feira, 25 de junho de 2018

O Passe Magnético e suas Limitações


Quatro são as causas principais que limitam a ação fluídica curadora, o que explica por que nem sempre o passe magnético logra obter num determinado caso o que noutra circunstância foi conseguido.
Em 1866, ao tratar das curas realizadas pelo Sr. Henri Jacob, Allan Kardec explicou que existe uma diferença radical entre os médiuns curadores e os receitistas. Enquanto estes tão-somente receitam remédios, os primeiros curam os enfermos por meio da ação fluídica, em mais ou menos tempo, sem o emprego de qualquer remédio. O poder curativo está todo no fluido depurado a que servem de condutores. A aptidão para curar, diz Kardec, é inerente ao médium, mas o exercício da faculdade só se dá com o concurso dos Espíritos, de onde se segue que, se os Espíritos não querem, o médium é como um instrumento sem músico e nada obtém. Ele pode, pois, perder instantaneamente a sua faculdade, o que exclui a possibilidade de transformá-la em profissão.(Revista Espírita de 1866, págs. 347 e 348.)
O Codificador relaciona, na sequência do estudo, os casos em que a ação fluídica é impotente para promover a cura. A ação fluídica, diz ele, pode dar sensibilidade a um órgão, fazer dissolver e desaparecer um obstáculo ao movimento e à percepção, cicatrizar uma ferida, porque nesses casos o fluido torna-se um verdadeiro agente terapêutico, mas é evidente que não pode remediar a ausência ou a destruição de um órgão, o que seria um verdadeiro milagre. Assim, a vista poderá ser restaurada a um cego por amaurose, oftalmia, belida ou catarata, mas não a quem tivesse os olhos estalados.
Existem, pois, doenças fundamentalmente incuráveis e seria ilusão crer que a mediunidade curadora vá livrar a Humanidade de todas as suas enfermidades.(Idem, págs. 348 e 349.)
De forma resumida, podemos dizer então, com base nos ensinamentos espíritas, que quatro são as causas principais que limitam a ação fluídica curadora:
·        falta de fé ou de receptividade do paciente
·        comportamento do enfermo
·        a natureza do problema ou da enfermidade
·        a lei de causa e efeito.
A falta de fé ou de receptividade do paciente
 Diz Martins Peralva, em seu extraordinário Estudando a Mediunidade, cap. XXVII, que existem criaturas que oferecem extraordinária receptividade aos fluidos magnéticos. São aquelas que possuem “fé robusta e sincera, recolhimento e respeito ante o trabalho que, a seu e a favor de outrem, se realiza”.
Na pessoa de fé, no momento em que recebe o passe, sua mente e seu coração funcionam à maneira de poderoso    ímã,  “atraindo    e   aglutinando   as   forças curativas”. “Já com o descrente, o irônico e o duro de coração – esclarece Peralva - o fenômeno é naturalmente oposto.”
 A explicação desse fato é dada pelo instrutor Áulus na seguinte passagem constante do livro Nos Domínios da Mediunidade, cap. 17, de autoria de André Luiz:

“Alinhando apontamentos, começamos a reparar que alguns enfermos não alcançavam a mais leve melhoria.
As irradiações magnéticas não lhes penetravam o veículo orgânico.
Registrando o fenômeno, a pergunta de Hilário não se fez esperar.
- Por quê?
- Falta-lhes o estado de confiança – esclareceu o orientador.
- Será, então, indispensável a fé para que registrem o socorro de que necessitam?
- Ah! sim. Em fotografia precisamos da chapa impressionável para deter a imagem, tanto quanto em eletricidade carecemos do fio sensível para a transmissão da luz. No terreno das vantagens espirituais, é imprescindível que o candidato apresente uma certa tensão favorável. Essa tensão decorre da fé.”
Eis aí o motivo pelo qual a falta de fé do paciente constitui um dos fatores limitativos da ação fluídica curadora, fato conhecido ao tempo de Jesus, como narra o Evangelho de Marcos (cap. 6:3-6), segundo o qual Jesus curou pouquíssimos enfermos em Nazaré por causa da incredulidade de seu povo. E foi o próprio Jesus quem, admirado com a descrença de sua gente, cunhou ali uma frase que se tornaria famosa e conhecida até em nossos dias: “Ninguém é profeta em sua terra”.
O comportamento do enfermo
Muitas vezes, quando não impede a eficácia da ação fluídica curadora, o comportamento do paciente acaba concorrendo para a reincidência do mal, como tem sido mostrado inúmeras vezes nas obras espíritas. Refere Allan Kardec, na Revista Espírita de 1865, págs. 205 e 206, o caso de um jovem cego que havia sido recolhido por um espírita dedicado que se propôs curá-lo por meio do magnetismo, pois os Espíritos haviam dito que sua cura era possível. O tratamento não surtiu, contudo, nenhum resultado, porque o jovem, em vez de se mostrar reconhecido pela bondade do amigo, só manifestou ingratidão e mau procedimento, dando provas do pior caráter.
São Luís, dirigente espiritual da Sociedade Espírita de Paris, explicou que, de fato, a enfermidade do rapaz era curável. Uma magnetização espiritual praticada com zelo, devotamento e perseverança certamente teria êxito, e sua visão teria sensível melhora, se os maus fluidos de que estava cercado não opusessem um obstáculo à penetração dos bons fluidos. “No estado em que se encontra – acrescentou São Luís –, a ação magnética será impotente enquanto, por sua vontade e sua melhora, não se desembaraçar desses fluidos perniciosos.” Um retorno sério daquele moço sobre si mesmo era a única coisa que poderia tornar eficazes os cuidados de seu magnetizador; do contrário, perder-se-ia o pouco de luz que lhe restava e novas provações o acometeriam.
Três exemplos de como o comportamento do enfermo pode ser causa de distúrbios orgânicos, e até mesmo inviabilizar a cura, podemos colher no livro Missionários da Luz, págs. 326 a 333, de André Luiz:
1) Uma mulher adentrou o Centro Espírita portando uma nuvem negra na região do coração, mais especificamente na área da válvula mitral. A mente, como sabemos, pode intoxicar-se com as emissões mentais daqueles com quem convive. A mulher tivera naquele dia sérios atritos com o esposo. Com o passe, a porção de matéria negra deslocou-se e veio aos tecidos da superfície, espraiando-se sob a mão irradiante, ao longo da epiderme. Se os atritos domésticos persistissem, o efeito mórbido poderia refletir-se sobre o corpo somático, produzindo uma lesão de consequências imprevisíveis.

2) Na mesma Casa Espírita, o grupo de médiuns passistas assistiu um certo homem tão irritadiço e invigilante que seus rins pareciam envolvidos em crepe negro, tal a densidade de matéria mental fulminante que os cercava.

3) Um cavalheiro idoso, tratado em seguida, apresentava o fígado e o baço em enorme desequilíbrio; contudo, apesar de seu estado, o passe só lhe daria naquele noite alívio, não a cura. Eis a explicação do mentor espiritual: "Após dez vezes de socorro completo, é preciso deixá-lo entregue a si mesmo, até que adote nova resolução". Aquele homem era portador de um temperamento menos simpático e extremamente caprichoso. Estimava as rixas frequentes, as discussões apaixonadas, o império de seus pontos de vista. Encolerizava-se com facilidade e despertava a cólera e a mágoa dos que lhe desfrutavam a companhia. Deveria, pois, ficar por algum tempo entregue a si mesmo. Quem sabe a dor e o sofrimento não lograriam o sucesso que as curas anteriores não conseguiram?
A natureza do problema ou da enfermidade
Como vimos inicialmente, Kardec diz, na Revista Espírita de 1866, pág. 349, que existem doenças fundamentalmente incuráveis e seria ilusão crer que a mediunidade curadora vá livrar a Humanidade de todas as suas enfermidades. Ter em conta a natureza do problema ou da enfermidade do paciente constitui, portanto, medida necessária a quem se proponha tratar das pessoas por meio da ação fluídica curadora.
Além do caso referido no preâmbulo – ausência ou a destruição de um órgão – é preciso ter em mente que a ação fluídica é incapaz, por si só, de resolver os distúrbios ocasionados pela consciência culpada e os processos obsessivos mais graves, como a subjugação.
O caso Mário Silva, relatado por André Luiz em seu livro Entre a Terra e o Céu, cap. 34, págs. 224 a 226, é bem ilustrativo disso.
Mário, impressionado com a morte do menino Júlio (que fora seu companheiro de peripécias anteriores por ocasião da Guerra do Paraguai), conservava aflitivo com­plexo de culpa e tinha seu pensamento ligado ao falecido, à maneira de imagem fixada na chapa fotográfica. Tendo passado o dia acamado, sob extrema perturbação, sentia-se vencido, envergonhado. André Luiz perguntou a Clarêncio se não seria possível socorrê-lo com passes magnéticos, ao que o Ministro respondeu, seguro de si: "O auxílio dessa natureza ampara-lhe as forças, mas não resolve o problema. Silva deve ser atingido na mente, a fim de melhorar-se. Requisita ideias renovadoras e, no mo­mento, Antonina é a única pessoa capaz de reerguê-lo com mais segu­rança". E acrescentou: "Tudo na vida tem a sua razão de ser. Noutra época, Silva, na personalidade de Esteves, aliou-se a Antonina, então na experiência de Lola Ibarruri, para se afogarem no prazer pecami­noso, com esquecimento das melhores obrigações da vida. Atualmente, estarão reunidos na recuperação justa. Os que se associam na levian­dade, à frente da Lei, acabam esposando enormes compromissos para o reajustamento necessário. Ninguém confunde os princípios que regem a existência".
A mesma limitação da ação fluídica, verificada em situações como a de Mário Silva, registra-se nos casos de subjugação, como o relatado na Revista Espírita de 1865, págs. 4 a 18, pelo Sr. Dombre, a respeito das crises convulsivas experimentadas por Valentine Laurent, de 13 anos.
As crises, além de se repetirem várias vezes por dia, eram de tal violência que cinco homens tinham dificuldade de manter a jovem na cama. Tratava-se de um caso obsessivo dos mais graves, produzido pelo Espírito de Germaine. Valentine era sensível ao tratamento recebido do Sr. Dombre por meio da imposição de mãos, mas, tão logo ele se afastava, voltavam as crises. Depois do tratamento por meio de passes magnéticos e de hábeis instruções transmitidas a Germaine – o Espírito que perturbava Valentine –, o processo obsessivo chegou ao fim e tudo se explicou.
À margem do caso, Kardec indaga: “Para que teria servido o magnetismo se a causa tivesse subsistido?” Era preciso primeiro destruir a causa, antes de atacar os efeitos, ou, pelo menos, agir sobre ambos simultaneamente, ensina o Codificador, mostrando que o magnetismo, por si só, é incapaz de curar as obsessões graves, entendimento que ele reiteraria na edição definitiva d’ O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. 28, item 81.

A lei de causa e efeito
A lei de causa e efeito não é, como muitos pensam, uma inovação, uma invenção do Espiritismo. Jesus a ela se reportou em várias oportunidades. Numa delas, ensinou o Mestre que a cada um será dado conforme as suas obras. Em outra passagem, como registra o Evangelho de Mateus (cap. 26:52), o Senhor, ao pedir que Pedro guardasse sua espada, afirmou que todos os que lançarem mão da espada à espada morrerão.
Ensina Allan Kardec, na Revista Espírita de 1868, pág. 85, que a maioria das moléstias, como todas as misérias humanas, são expiações do presente ou do passado, ou provas para o futuro. No primeiro caso, decorrem de dívidas contraídas, cujas consequências devem ser suportadas até que tenham sido resgatadas. Não pode, obviamente, ser curado aquele que deve passar por uma prova que não chegou ainda ao seu final.
A mesma tese, que por sinal não constitui nenhuma novidade para os estudiosos do Espiritismo, havia sido defendida no ano anterior, na Revue de 1867, págs. 190 a 193, pelo Espírito de Quinemant, que tece, numa importante comunicação, considerações valiosas em torno do magnetismo e do Espiritismo.
Depois de lembrar que a doença material é um efeito e, enquanto persistir a causa, produzirá esta novos efeitos mórbidos, o que inviabiliza a cura, o comunicante descreve a íntima relação que existe entre o Espiritismo, a mediunidade e o magnetismo, que, desenvolvido pelo Espiritismo, “é a chave da abóbada da saúde moral e material da humanidade futura”.
Eis aí um dos motivos mais frequentes de limitação da ação magnética curadora, que deve ser levado sempre em consideração pelas pessoas que buscam ajuda nas Casas Espíritas. Em tudo é preciso paciência, e é esta que faz com que a pessoa enferma prossiga até o fim, fazendo a parte que lhe toca, sem desânimo, certa de que, quando soar o momento, seu objetivo será alcançado.