Se há uma palavra que não existe no vocabulário amoroso dos ciganos é pressa. Em momento algum um casal cigano inicia um relacionamento amoroso preocupado com o tempo ou com o terminar logo.
Normalmente, uma relação para um casal de ciganos tem um significado muito especial, mesmo que sejam velhos amantes. É que cada vez é considerada como a primeira vez e toda a experiência de cada um é posta a serviço dessa idéia.
E o que resulta disso? Simplesmente essa idéia: a de que cada vez é sempre a primeira vez e isso faz uma diferença significativa, se considerarmos que casais mais antigos acabam transformando o sexo numa obrigação e não num prazer, numa seqüência de atos mecânicos e não numa nova descoberta.
Cada vez é sempre nova e sempre mágica. Isso se concretiza já no momento de iniciar o relacionamento. Por onde começar? Pode parecer uma pergunta sem sentido, mas está nisso todo o sentido do ardor e da paixão cigana.
Cada mulher e cada homem vai para o amor como quem vai pela primeira vez, buscando descobertas e não repetir erros e acertos passados. Faz diferença? Experimente amar um(a) cigano(a) e depois uma pessoa da sua raça. Saberá, então, do que estamos falando aqui.
PARA DESCOBRIR OS TRÊS ESTÁGIOS DA PAIXÃO
Há um conceito entre os hindus do chamado "sétimo céu" que, graças às fotonovelas, radionovelas e telenovelas, se transformou em sinônimo de êxtase amoroso.
Era, no entanto, um conceito vago e sem maiores referências, que gerou muitas frustrações, principalmente nas moçoilas da época do nascimento do rock, que julgavam que o sexo era como uma centelha que, uma vez inoculada, provocava um prazer que durava tanto que fazia a pessoa flutuar até atingir um nível de inconsciência.
O que os hindus chamam de sétimo céu, os ciganos chamam de terceiro estágio da paixão. E como chegar a ele? Simplesmente desconhecendo a palavra pressa.
Todo o segredo reside numa simples vela perfumada vermelha, de um terço do tamanho de uma vela normal. Ao adquirir a vela, meça-a a marque três estágios. Quando for fazer amor com quem você ama, leve em consideração os seguintes estágios:
Primeiro estágio da vela: movimento ereto e provocação
Tudo isso simplesmente quer dizer que, enquanto a primeira parte da vela se queima, vocês devem se movimentar e se provocar, mas seus corpos devem permanecer eretos, tocando-se, abraçando-se, movendo-se, indo no ritmo da música preferida. A dança e a música são as melhores companheiras nesse momento.
Segundo estágio da vela: movimento e inclinação
A partir desse momento, os movimentos deverão tender à inclinação, para que o contato dos corpos seja mais provocativo e sensual. A música e a dança continuam sendo as melhores sugestões, só que os movimentos devem ser suaves, longos e provocantes, apenas roçando, sem tocar diretamente, mas sugerindo o toque. Encostar-se nas paredes e nos móveis é aconselhável, mas a cama deve permanecer como uma sugestão ainda, sem que lhe seja dado destaque.
Terceiro estágio da vela: contato e horizontalidade
O toque é mais ardente e mais direto agora, detendo-se em provocar prazer. Deve ser inquieto e curto e os corpos devem se mover horizontalmente, invertendo posições constantemente. À medida em que a vela chega ao seu final, essas inversões devem ir se acentuando, até que a chama se apaga e a escuridão envolva os dois amantes.
A partir de então, tudo será válido e ardente.
PARA ATRAIR UMA MULHER
Para um homem atrair uma mulher cigana, antes de mais nada é preciso que ele não demonstre o menor interesse por ela, pois assim ela saberá o quanto ele a deseja. Quanto maior for a indiferença dele, maior será seu desejo por ela e cigana sabe disso.
Tudo isso se processa num nível mais ou menos consciente, pois a incerteza é que dá o tempero ideal. Para o homem isso é muito conveniente, porque se acontecer de ser recusado, a indiferença demonstrada será seu escudo e ele sairá da situação sem ferimentos em seu orgulho próprio.
Assim, para atrair uma mulher, o homem mostra-lhe indiferença e espera pelos sinais que ela dará em retorno. Um deles, o mais clássico e incontrolável de qualquer mulher será o sorriso e o gesto de passar as costas da mão pelos cabelos, jogando-os para trás da cabeça.
PARA ENVOLVER UM HOMEM
Para uma cigana apaixonada, o termo envolver é entendido literalmente. Quando ela se decide por um homem, nada há que a detenha, nem a pseudo-submissão que afirmam ser sua característica.
No fundo, os ciganos têm um respeito enorme pela determinação de suas mulheres que, assim como as demais, souberam delimitar novos espaços e ocupá-los.
Velhas e tradicionais práticas, no entanto, continuam valendo, como a de envolver um homem.
Quando uma cigana se apaixona, ela pega uma peça íntima do homem em questão e envolve-a apertadamente com uma fita vermelha, guardando-a depois dentro de seu travesseiro. Inicia, então, o cerco ao seu homem. Se estiver difícil, ela enrola nova fita na peça íntima, desta vez mais apertada que a anterior e vai fazendo assim até conseguir o que deseja.
PARA ENCANTAR
O encantamento cigano tem muito mais de movimentos e gestos do que de qualquer outro recurso, muito embora, mais do que as outras mulheres, elas saibam combinar talismãs de toda espécie para conseguir o que desejam.
Quando deseja encantar um homem, a cigana demonstra isso abertamente, ao contrário do homem, que finge indiferença. Os movimentos das mãos dela, sempre de fora para dentro, dão essa noção.
Quem já assistiu a uma dança cigana, como o flamengo, sabe o que isso significa. A mulher levanta alternadamente ora um dos braços, ora outro, girando a mão como se apanhasse alguma coisa no ar e trouxesse para frente de si. É o sinal e, ao mesmo tempo, é o movimento mágico que cativa e atrai o homem, mesmo contra a sua vontade.
Não são movimentos fáceis, mas não são, também, tão difíceis que não possam ser ensaiados e repetidos.
PARA FABRICAR UMA PAIXÃO
O vinho tem, para os ciganos, um significado todo especial, pois é uma bebida que vem de uma fruta com fortes ligações com a terra, mas que flutua acima dela, ao sol e no ar.
Muito mais do que uma simples bebida, o vinho chega ao requinte de ser considerado um afrodisíaco único, o verdadeiro e sempre cultuado em todo o mundo.
Quando uma cigana quer provocar uma paixão num homem, não uma simples paixão, mas algo realmente arrebatador, que torne desnecessários os três estágios da paixão, ela simplesmente dorme com uma garrafa de vinho tinto entre suas pernas durante as noites da lua cheia.
Após isso, ela convida seu escolhido para beber do vinho por ela encantado.
PARA A PRIMEIRA NOITE
A primeira noite de um casal de ciganos apaixonados tem algo de mágico e de intraduzível, porque se trata de uma experiência que eles consideram da maior importância, porque representa em si dois desafios: o primeiro, de ser a melhor experiência de suas vidas até aquele momento; o segundo, de ser inferior à experiência seguinte, como se amar fosse uma constante evolução e uma constante busca da superação.
O incrível é que, como se trata de algo cultural, isso é atingido com a maior naturalidade por eles, o que provoca inveja e admiração dos "gadjos", que não entendem ainda o sentido desse tipo de amor e desse tipo de paixão.
O que é preciso lembrar, no entanto, é que a arte cigana do amor já tem alguns milênios de experiências, tendo atingido um estágio que lhe dá o nível de excelência.
O segredo é simples. Na primeira noite, o casal não se vale da simpatia dos três estágios da paixão, mas a dos nove estágios, que consiste em usar uma vela de sete dias, dividida em nove estágios. Cada um deles corresponde a um tipo de ação, a saber:
Primeiro estágio: Cheirar e aspirar o perfume do corpo.
Segundo estágio: Palavras, exprimindo sentimentos e desejos.
Terceiro estágio: Toque de mãos.
Quarto estágio: movimentos eretos.
Quinto estágio: movimentos eretos e cheiros.
Sexto estágio: movimentos inclinados e palavras.
Sétimo estágio: movimentos inclinados e toques.
Oitavo estágio: movimentos inclinados e orais (uso da língua e dos lábios).
Nono estágio: movimentos horizontais, cheiros, palavras, toques, movimentos e atividade oral.
Observação: Os ocidentais afirmam que esses nove estágios são um exagero, mas normalmente são opiniões masculinas. As mulheres ocidentais, em sua maioria, simplesmente não acreditam que existem homens que podem esperar tanto.
Talvez por isso a cotação dos amantes ciganos se mantenha sempre em alta, em qualquer parte do mundo onde se peça a opinião feminina.
PARA ALUCINAR UM HOMEM
O número sete, além de ser um número cabalístico de alto significado, sempre esteve associado à magia cigana do amor e do sexo. Basta lembrar uma das danças mais eróticas e provocantes de toda a história da humanidade, a dança dos sete véus, para se perceber isso.
Uma cigana, quando quer deixar um homem a seus pés, não recorre nem aos três nem aos nove estágios da paixão. Ela simplesmente usa a dança dos sete véus.
Na verdade, existe uma escala a ser obedecida em relação às cores dos véus. Para isso, basta seguir, de qualquer direção, o espectro do arco-íris.
O que faz a diferença, no entanto, não é a cor dos véus, mas seu movimento, que deve ser sincronizado, já que três deles devem estar à altura dos seios, três abaixo do ventre e um no ventre. Esse, inclusive, é o primeiro a cair.
A música é rítmica e repetitiva, mas com acentos de flauta ou de um instrumento de corda que, combinado com uma percussão, marcam os movimentos de joelhos, que vão e voltam, fazendo os lenços se movimentarem na sincronia desejada.
Aliás, se isso for combinado aos três ou aos nove estágios da paixão, o mundo será poluído por suspiros de paixão e perturbado por gemidos de prazer.